“Tudo bem, tudo bem... Já chega de barulho!”.


Eu repetia esta frase diversas vezes ao olhar o teto que a chuva castigava...

Não agüentava mais o barulho que as gotas faziam ao cair.

Aquela madrugada que custava a passar; atormentava-me e não me acrescentava nada... Somente desespero.

A minha cabeça rodava, junto aos pensamentos perdidos que eu vasculhava... A tela do computador escurecia e voltava a clarear a sala vazia. Eu me perguntava o porquê estava lá, sentado a frente do mesmo. O sono era meu maior inimigo, travávamos uma luta e tanto.

A um tempo vinha vivendo este mesmo episódio de um pesadelo que parecia não ter fim. Era como estar encalhado em um jogo, sem saber para onde ir, nem o que fazer...

E eu não queria mais jogar! Tudo estava diferente. Eu passei a não suportar pessoas, brincadeiras, lugares e bebidas. Olhava a minha volta e via o que não queria.

Já fazia um tempo que não rendia o esperado no trabalho, minhas mãos não agüentavam mais o peso das ferramentas, nem minha cabeça o das responsabilidades. Na musica estava fraco e sem criatividade, não lia mais livros nem saía mais, a bebida vinha se tornando cada vez mais amarga, e o gosto por uísque eu perdi. O velho “Fernando vida dupla” estava perdendo a batalha, talvez não a guerra, mas a batalha! O espelho mostrava tudo, menos eu mesmo.

Eu me via tatuado, embriagado e magro. (quem dera fosse esta a verdade)

Mas não era! O que estava ali na verdade, era uma cópia mal feita de meu pai.

Um homem sério, sem muitas expressões. A não ser a de alguém castigado pela vida; e muito, mas muito rude. Talvez com barba demais, tanto faz.

Por dentro eu me debatia, como uma lagarta querendo sair do casulo que a aprisiona...

Nem mesmo George eu visitava. Se ao menos eu pudesse entender o que se passava em minha cabeça. Saberia encontrar a saída para isto, mas estava difícil de achar algo lá dentro. Se houvesse algo útil, estava bem escondido. Eu precisava achar! E com este pensamento eu caminhava pelo quarto e o bagunçava, e logo em seguida, sentava outra vez à frente de meu computador...

E assim, ele olhou fotos, fuçou arquivos esquecidos, lembrou de como era, e tremeu diante de si...

As coisas não se encaixavam em sua mente. Perdeu-se na maré de seus pensamentos.

Os desejos realizados não eram o bastante para seguir adiante...

As lágrimas seguraram-se em seus olhos.

De pedra! Ele era de pedra!

Mas somente por fora... Mostrava-se assim por proteção, talvez por medo.

Por dentro, um emaranhado de revoltas, desejos, amores e solidão, basicamente solidão.

Não se tornara assim por pouco, pensava coisas complexas, mas era simples, fazia o que queria, mas mesmo assim ninguém o entendia.

Odiava seguir ordens...

E às vezes em que era obrigado a seguir caminhos não ditados por ele mesmo, enlouquecia.

Caiu. Por varias vezes caiu, levantou-se...

E desta vez, mergulhou. Sentiu pela primeira vez a vontade insana de morrer.

Não era como outrora, que deslizava em uma rota de indecisões...

Era certo como seus atos que jamais voltaria atrás...

E o medo o tomou outra vez...

Irreconhecível, torturou-se com esse sentimento.

As lagrimas agora escorriam em seu rosto avermelhado, e polvilhado por cocaína...

"Você está MORTO!”.

Exclamou aos berros e apontando o espelho...

Talvez este fosse o seu desejo. Mal interpretado até por ele mesmo.

Talvez esta morte fosse apenas uma libertação, a satisfação do desejo por mudanças.

A partir disto seria um novo Fernando, mais liberto, que satisfaz os próprios desejos.

3 comentários:

Lucas Lutero disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas Lutero disse...

Opa, obrigado pelo comentário, isso me motiva a continuar postando, confesso que às vezes a falta de comentários assim me desanima a continuar com essa pseudo-publicação, chamada blog.

Quanto ao seu texo, gostei do tom amargo que ele carrega, traz uma repugnancia da escrita, mas ao mesmo tempo, prende a atenção, eu gosto disso, bom, não sou muito bom para criticas, mas fica assim...

visite o site de uma revista virtual que faço parte, a gente tenta divulgar novos escritores, principalmente "bloguistas" como nós. www.revista-apes.blogspot.com

Abraços, vou adicionar seu blog aos meus favoritos.

Lucas!

Unknown disse...

Nossa. Me senti várias vezes no meio de todas essas pelavras.
Mas lembre-se daquela velha metáfora da Águia, quando ela sobe na montanha, bate seu bico contra a rocha, espera nascer um novo, tira suas penas para nascerem novas, e então ele está pronto pra viver mais.
abraços

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