Aqui jaz...
Tudo corria bem durante a semana... A minha vida corria bem!
Eu não conseguia esconder a ansiedade para o encontro. Minha semana foi assim, corrida, com a cabeça nas nuvens.
A sexta mais esperada da minha vida (tudo bem é exagero) chegara!
Eu cheguei do trabalho e fui direto arrumar-me. Banho demorado, cabelo penteado fio a fio, barba feita com cuidado, dentes escovados e minha mãe estranhando toda aquela “frescura” que ela jamais tinha visto em mim. O dia estava perfeito, tudo parecia estar em harmonia... As horas passavam rápido, faltava tempo para todo o meu ritual de embelezamento.
Depois de me arrumar, se me lembro bem umas duas horas antes da hora marcada. Peguei o telefone com um sorriso estampado no rosto, liguei para Brunna... O telefone só fazia aquele barulho que me deixava cada vez mais nervoso... O barulho de ocupado!
A partir daí, o meu dia foi de mal a pior...
A chuva só aumentava, meu pai surtava como sempre de repente, atacava a todos como se fossemos inimigos, fazia cena e gritava por qualquer coisa, mas tudo isso não me impediu de seguir em frente, eu pensava: “se tudo isto aconteceu, é porque irá dar certo no final!”.
Pensamento falho... Cheguei no horário marcado, e até então ela não havia chego. Passei duas horas parado em frente ao Açaí bar, a espera de algo bom, com esperança de que ainda ia encontrá-la. Dizem que a esperança é a ultima que morre... No meu caso ela morreu rápido! Às duas horas debaixo de chuva me deixaram encharcado e com toda ira do mundo... Voltei para casa a pé, sem me importar com o tempo que levaria, nem com a chuva. A chuva naquele momento era uma aliada, escondia as lágrimas que escorriam em meu rosto e lavava minha alma... Eu só conseguia pensar nas palavras de George, naquele dia em que contei sobre Brunna, ele dizendo que iria ser como todas, que eu me importaria nos primeiros dias e depois me “apaixonaria” por outra, sim de fato eu era assim, ERA... Naquela altura de minha vida eu não queria mais paixões passageiras, eu já estava cansado de aventuras, e ninguém acreditaria se eu contasse este episodio. Já fazia um tempo que eu a observava, eu a desejava, queria conhecê-la bem, saber sobre seus anseios, sobre sua vida; e a partir daí, talvez criar uma nova vida, junto dela... Este era meu pensamento, mas as pessoas ainda me viam como um boêmio. Pois eu era um! Boêmio, mas consciente. Eu sabia o que queria, e neste momento de minha vida, seria crucial uma mudança, era tudo ou nada! O meu pensamento mudava a todo o momento, eu estava começando a pensar no que eu realmente queria... Se a banda seria algo a seguir em frente, se seria algo válido em minha vida, se a musica realmente faria parte de minha historia, se aquele trabalho me agradava, se era possível administrar o tempo entre ele e todos os meus projetos... Pronto! A confusão em minha mente estava formada. Tudo por um estopim... Aquele encontro mal acabado fez com que um montante de pendências se desprendesse das paredes de esquecimento que havia em minha mente. Poético? Não para mim. A partir deste dia, algo começara a corroer minhas idéias, tudo eu questionava, não havia coisa no mundo que me fizesse acreditar que eu era bom em algo...
“Ele sorria, ele chorava, gritava e acalmava...
Uma pessoa normal, vivendo nesta baderna organizada.
Crescia, sonhava... Tentava mudar o mundo...
O que ninguém percebia, era o vazio que tomava seu peito.
A falta de ser algo, sentir algo...
A superfície trazia as características de um homem forte e robusto, que consegue tudo com o próprio esforço.
Mas ele estava cansado. Muitas coisas as pessoas ao seu redor sabiam, mas não era tudo.
Ele escondia os maiores fatos, para que ninguém percebesse a pessoa perdida que conheciam.
Moldava-se a tudo, fazia tudo, tentava agradar a todos... Não conseguia.
De múltiplos talentos e uma forte inclinação para as artes...
Amava musica mais do que a si mesmo, sonhava ser reconhecido por isso.
Vivia por simplesmente viver, aprendeu a ser conformado, não totalmente, apenas redeu-se aos caminhos que vida nos dá...
Insatisfeito com a própria, não tomava rumos, seguia a maré, pois já estava exausto de lutar contra...
Aos poucos ia se rendendo, e ninguém percebia...
Eu sabia que um dia ele desistiria de vez...
Este era o meu medo. E eu sabia!“.
“Depressão... Você está em depressão!”.
Maldita frase indagada pelo psicólogo que me indicaram. Fui indicado a tratamento, pois estava com rendimento baixo no trabalho, isto uma semana após o episodio de encontro falho... Rápido não? Foi o que o psicólogo achou também...
Minha queda foi rápida, meu desapego também! Tornei-me um monstro em poucos dias...
Nada mais fazia sentido, e tudo isto por uma mulher? Não! Coisas pendentes em meu coração, sentimentos não liberados junto a vontades não satisfeitas, planos jogados foras por falta de incentivo, uma vida toda satisfazendo vontades de outros... Para que? Para que tudo meu seja jogado pela janela! Queria ser alguma destas coisas jogadas ao relento... Talvez me fizesse bem! Talvez, talvez, talvez... Sempre assim. Duvidas que me atormentavam, mas agora eu era uma bomba já detonada, com os estilhaços espalhados; e nenhuma mãe por perto para recolher os corpos dos filhos... Filhos da minha mente, que jamais foram criados. Agora abandonados, mortos e enterrados...
Os problemas só aumentavam na vida de Fernando, ele procurava os problemas, e os tornava parte de si. Em pouco tempo a imagem feliz do rapaz se desfez, e o que restou foi somente à imagem de rancor... As brigas familiares aumentavam; a ausência dele nos bares também. Passava maior parte de seu tempo livre sozinho, em lugares onde ninguém pudesse encontrá-lo... As horas em que passava dentro de casa eram em frente ao seu computador, escrevendo coisas incompreensíveis... Assim ele seguia a vida. Não demoraria a piorar... As drogas logo o atrairiam, passaria noites em claro, e traria preocupação para amigos e família...
1 comentários:
Nossa, quanta coisa.
Muito parecido comigo em tudo que estou passando.
Bom ler teus textos e me identificar com ele.
Muito Bom.
abraços
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